Após cortar 7 mil árvores, prefeitura inaugura “refúgio climático” em BHProjeto Manuelzão

Após cortar 7 mil árvores em 2023, prefeitura inaugura “refúgio climático” no Centro de BH

08/07/2024

PBH investiu R$ 177 mil em estrutura associada a uma árvore jovem e composta por banco, bebedouro com nebulizador e piso permeável

Refúgio climático inaugurado pela PBH é associado a uma árvore oiti jovem. Foto: José Pedro Ferreira/Projeto Manuelzão.

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) entregou no último dia 17 o primeiro de cinco abrigos climáticos que estão previstos no âmbito da Nova Agenda Verde e devem ser implementados até o fim de 2024. A estrutura, que contrasta com o corte pela PBH de 7.326 árvores ao longo do ano passado, é associada a uma árvore oiti e conta com um bebedouro com aspersor de névoa refrescante, banco, espreguiçadeira e piso permeável.

Localizado na Rua dos Carijós, 679, no Centro da cidade, o espaço de 25 m² foi apresentado como uma solução para o cidadão se abrigar do sol, amenizar os efeitos do calor e descansar. A árvore jovem, no entanto, aparenta ainda não fornecer sombra suficiente. A obra no valor de R$ 177.588 foi executada pela empresa EPO Empreendimentos por meio de compensação ambiental.

Recentemente, o Projeto Manuelzão mostrou que BH é a capital que apresentou os maiores aumentos de temperatura em 2023 ultrapassando 4ºC acima da média durante novembro.

Ambientalistas e parlamentares ligados ao debate ambiental classificam como contraditório o plano da PBH de construir “refúgios climáticos”, enquanto se afasta de soluções menos custosas e mais efetivas para construir uma cidade mais arborizada, com menos concreto e mais permeável às águas das chuvas.

Neste ano, o Executivo municipal chancelou novos cortes relevantes de árvores adultas espalhadas pela cidade, notadamente, no entorno do Mineirão para a realização de uma prova da Stock Car e na praça Raul Soares, no Centro, que já funciona a seu modo como um abrigo nos dias quentes.

A postura do prefeito Fuad Noman (PSD) o rendeu a alcunha de “prefeito motosserra” por parte de movimentos de plantio da capital e motivou a proposição de um projeto de lei na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) que determina a publicação das autorizações e a comunicação prévia de supressões de árvores e áreas verdes.

Corte de árvores na praça Raul Soares, em março deste ano. Foto: Reprodução redes sociais.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o ambientalista Antônio Pomar, do Projeto Pomar BH apontou contradições entre o que está sendo proposto pela Prefeitura e o que realmente acontece na cidade. De acordo com ele, a proposta se opõe às ações incoerentes da prefeitura, que negligencia a manutenção de vários bebedouros da cidade e não fornece irrigação a muitas árvores plantadas recentemente.

A prefeitura pretende entregar mais quatro refúgios até dezembro de 2024, localizados no hipercentro de Belo Horizonte: um na avenida Olegário Maciel, outro na avenida Amazonas e dois na rua dos Caetés. Além disso, estão previstos a construção de um em Venda Nova e outro no Barreiro, porém sem data para entrega. Tomando como base o custo do refúgio inaugurado, as sete estruturas terão custo de cerca de R$ 1.240.000.

A Comissão de Administração Pública da CMBH aprovou no último dia 19 uma solicitação de informações à prefeitura acerca dos custos de construção e manutenção dos refúgios climáticos.

Outras experiências e projetos

O projeto da PBH é inspirado em modelos europeus que já existem. Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) apontaram que algumas regiões na Espanha bateram 47,6ºC em 2021. Pensando nisso, a Prefeitura de Barcelona construiu mais de 200 abrigos de clima no verão e 130 no inverno, e foram projetados para estar a até dez minutos a pé de pelo menos 97% da população.

Os refúgios são áreas internas ou externas que fornecem conforto térmico. Os ambientes podem manter temperaturas de 27ºC no verão e 19ºC no inverno. Tem água gratuita, de fontes públicas, cadeiras e bancos para descanso.

Pátio a céu aberto do Museu Frederic Mares, em Barcelona. Foto: Josep Bracons/Catalan Art & Architecture Gallery.

Muitos parques e praças têm áreas especificamente destinadas a isso e são exemplos de abrigos junto de outros espaços como bibliotecas, centros esportivos, centros cívicos, museus e centros para pessoas idosas.

Pensando em BH, uma solução apresentada pelo ambientalista Felipe Gomes é a construção de piscinas públicas, conectadas aos córregos preservados da capital, como o Córrego Bacurau, que nasce na Mata do Planalto, na região Norte.

Em Brasília, existe a Unidade de Conservação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com duas piscinas disponíveis para banho da população. De acordo com a administração local, cerca de 1,5 mil pessoas frequentam diariamente o espaço, que conta com outras atividades como caminhada e ciclismo dentro da área.

Parque “Água Mineral”, piscina pública localizada em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

Nova Agenda Verde

Anunciada no dia 5 de junho pela PBH, a Nova Agenda Verde trata-se de uma série de medidas com o objetivo de unificar e fortalecer os sistemas de proteção e requalificação de áreas verdes, áreas protegidas, recursos hídricos e corredores verdes em Belo Horizonte, além de incentivar a adaptação da cidade às adversidades climáticas.

 

Página Inicial

Voltar