20/08/2024
Área do Monumento Natural Estadual da Serra da Moeda foi a mais atingida pelo fogo, que perdurou por cinco dias no fim do último mês
Em 21 de agosto, teve início um incêndio de grandes proporções que devastou parte da Serra da Moeda, na vertente oeste do Quadrilátero Ferrífero-Aquífero, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O fogo começou às margens da BR-040, próximo ao pedágio em Itabirito, e rapidamente se espalhou, subindo a encosta da serra, atingindo o topo e, em seguida, descendo para a encosta oeste. A área afetada fica na divisa dos municípios Itabirito, Brumadinho e Moeda, e o incêndio só foi controlado no dia 25, após cinco dias de intensas chamas.
O fogo atingiu principalmente o Monumento Natural Estadual (Monae) Serra da Moeda, uma área protegida de grande importância biológica, turística e científica, inserida na Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, criada em 2005 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
De acordo com Francisco Mourão, biólogo da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda), ONG que reúne uma brigada que atuou no combate ao incêndio, dos 2.372 hectares totais do Monae Moeda, 536 foram atingidos pelo fogo, quase 25% da área da unidade de conservação criada em 2010. Mourão destaca que foram afetados trechos de Cerrado, matas e capoeiras. Não há informações sobre o número de espécimes animais atingidas.
O Monae Moeda está situado na formação geológica conhecida como Sinclinal Moeda, com área de 305 mil hectares, abrangendo as Serras da Moeda e do Itabirito. A cadeia de montanhas divide as bacias hidrográficas dos rios Paraopeba, a oeste, e do Rio das Velhas, ao centro e leste.
Os incêndios florestais, comuns no tempo seco, destroem a vegetação nativa, pioram o ar do entorno, geram prejuízos financeiros e causam graves impactos na biodiversidade e nos recursos hídricos, além de serem uma grande fonte de emissão de gases de efeito estufa.
Ainda não há informações precisas sobre como o fogo começou. Sabe-se, contudo, com a ausência de tempestades de raios, que o fogo foi provocado pela ação humana e não por causas naturais.
Uma análise da Amda sobre a região do Sinclinal Moeda evidencia que, entre 1985 e 2022, uma redução expressiva no número de focos de incêndio foi registrada a partir de 2011, resultado sobretudo do aumento de brigadas de incêndio, profissionais e voluntárias, dos avanços na estrutura estadual e nas ações de monitoramento. A partir de dados via satélite levantados pelo MapBiomas foi observada na região uma redução da área total anualmente queimada, do número de incêndios e do comprimento da linha de fogo.
Por outro lado, os dados mostram a persistência de grandes incêndios florestais considerados de grandes proporções, acima de 500 hectares de área queimada, além de que “parte das áreas com maior frequência de ocorrência (mais de 30 incêndios) estão localizadas nas unidades de conservação”.
Mas há muito a avançar. A Amda defende a implementação de ações de manejo integrado do fogo (MIF), entre elas as chamadas linhas negras — a queima controlada de faixas de vegetação para eliminar materiais inflamáveis e reduzir a biomassa vegetal seca —, em áreas críticas do Sinclinal Moeda, especialmente ao longo das margens das rodovias. As ações de MIF poderiam evitar a propagação de pequenos incêndios, facilitando seu controle.
Essa estratégia, é ressaltado no estudo da Amda sobre o Sinclinal Moeda, vem sendo largamente aplicada em todo o mundo e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) já a praticam em várias áreas no Brasil, em especial, nas unidades de conservação federais. Contudo, em Minas Gerais,”o governo do estado resistiu durante muitos anos à adoção dessa estratégia de prevenção”.
Em 2019, foi publicado o Decreto Nº 47.919/19, que regulamenta o uso do fogo prescrito, principalmente em áreas protegidas, mas a estratégia das linhas negras ainda não é amplamente adotada devido à falta de consenso no Instituto Estadual de Florestas (IEF).
Procurado pelo Projeto Manuelzão, o IEF ainda não respondeu os questionamentos sobre o incêndio no Monae Serra da Moeda e seus impactos.
As principais dificuldades no combate a esses incêndios surgem durante a estação seca, de agosto a outubro, quando as brigadas de incêndio são mais demandadas.
A redução das áreas afetadas pelos incêndios, escrevem os integrantes da Amda no estudo, depende de uma forte ação preventiva, focada na educação e na informação. “Somente com investimentos nessa área será possível aumentar a conscientização da sociedade local e regional sobre as causas e consequências dos incêndios florestais”, concluem.