Investigado por contrabando de madeira, Ricardo Salles pede exoneração do Ministério do Meio Ambiente - Projeto ManuelzãoProjeto Manuelzão
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Investigado por contrabando de madeira, Ricardo Salles pede exoneração do Ministério do Meio Ambiente

25/06/2021

A exoneração foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União na última quarta-feira

Investigado em dois inquéritos, Ricardo Salles pediu exoneração da pasta do Meio Ambiente do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), nesta quarta-feira, 23. A pressão política por sua saída aumentou desde que a destruição das políticas ambientais brasileiras se tornou um risco para a entrada do país na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Quem assume agora é Joaquim Leite da Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais; sua família disputa posse da Terra Indígena Jaraguá em São Paulo, como revelou o site da BBC, a partir de documento da Funai (Fundação Nacional do Índio).

As investigações contra Salles começaram em janeiro de 2020, quando o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos (FWS) embargou e notificou o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) sobre 3 contêineres de madeira exportada do Brasil no Porto de Savannah (Geórgia), vindos de Ananindeua, no Pará, sem documentação do órgão de fiscalização brasileiro.

A FWS recebeu, logo depois, certidões enviadas pelo superintendente do Ibama no Pará legalizando as cargas. O ministério de Salles ainda pediu, em sequência, o afrouxamento das licenças de exportação após pedido de empresas madeireiras que estavam com suas cargas retidas, possibilitando a exportação de mais de 8 mil cargas de madeira ilegalmente. 

A denúncia da FWS permitiu que a Polícia Federal começasse investigações que descobriram uma fazenda “laranja”, usada para exportação de madeira desmatada ilegalmente, e R$ 14 milhões em movimentações suspeitas ligadas à empresa de advocacia de Ricardo Salles. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes acatou a denúncia e pediu um mandado de busca e apreensão na casa de Salles, no mês passado.

No início do mês, a ministra Cármen Lúcia também autorizou a instauração de um inquérito para investigar o ex-ministro Ricardo Salles sob pedido da Procuradoria Geral da República (PGR). A apuração da PGR vem da Operação Handroanthus da Polícia Federal, que apreendeu 226 mil metros cúbicos de madeira ilegal na divisa do Pará com o Amazonas, no fim de 2020.

Sob pressão de madeireiros, Ricardo Salles foi à sede da PF e exigiu que em uma semana os peritos apresentassem os laudos que justificassem a operação, conforme denunciou o superintendente da PF no Amazonas Alexandre Saraiva. O inquérito aberto pelo STF também investiga Eduardo Bim, presidente afastado do Ibama, pelos mesmos motivos: advocacia administrativa, impedir a fiscalização ambiental dos órgãos competentes e atrapalhar investigação de infração penal.

Passar a boiada

Salles ainda é conhecido pela fala na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando disse que “nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de COVID” haveria a necessidade de um esforço para “ir passando a boiada e mudando todo o regramento, para dar de baciada a simplificação”, em palavras do próprio ministro.

O ex-ministro não é da área ambiental, é advogado, fundador do Movimento Endireita Brasil. A carreira política de Sales começou em 2006. Conforme indicado por relatório do Instituto Socioambiental (ISA), o legado que Salles deixa é o de maior desmatamento da Amazônia em 12 anos, com quase 50% das áreas de proteção afetadas.

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