Laudo pericial determina esterilidade de solo contaminado por lama da Vale em Betim - Projeto ManuelzãoProjeto Manuelzão

Laudo pericial determina esterilidade de solo contaminado por lama da Vale em Betim

01/07/2022

Material analisado apresenta características semelhantes às encontradas no rejeito da barragem de Brumadinho; Vale nega responsabilidade

A Prefeitura de Betim produziu um laudo pericial, baseado em análises químicas e de sondagem da lama que emergiu do Rio Paraopeba em janeiro deste ano, após as intensas chuvas que causaram enchentes na região, que demonstra que o solo se tornou estéril. As análises demonstraram que a lama do Paraopeba, em uma extensão de 30 quilômetros no município de Betim, apresenta concentrações de metais tóxicos muito acima do permitido.

A alta concentração de manganês, ferro, alumínio, boro, antimônio e arsênio impacta diretamente a qualidade do solo, que se torna estéril pela contaminação. As informações foram obtidas pelo jornal O Tempo, que teve acesso prévio aos dados da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Betim.

De acordo com O Tempo, o laudo aponta que a lama coletada é semelhante ao material despejado pelo rompimento da barragem de Córrego do Feijão em Brumadinho no ano de 2019, classificado pela mineradora Vale como classe IIA, ou seja, não inerte. Este tipo de material pode possuir propriedades poluentes ao solo, aos rios e à atmosfera.

Outro estudo similar, produzido ainda em janeiro pela Rede de Monitoramento Geoparticipativo chegou a resultados  parecidos em relação a amostras de água. O levantamento demonstrou que as inundações em Minas Gerais trouxeram, além de destruição, elementos como arsênio, ferro, manganês e chumbo em concentrações muito além do permitido pelos limites estabelecidos pela legislação. Estas substâncias estão presentes de forma nociva na água, nas bacias do Rio das Velhas e do Paraopeba.

O que diz o laudo

Para a produção do laudo, foram coletadas vinte e quatro amostras em seis pontos ao longo de 30km do Rio Paraopeba em Betim. Foram retiradas 7.594 imagens aéreas de alta resolução, com o objetivo de mensuração do tamanho da área atingida pela lama no município após as enchentes do Paraopeba em janeiro. Foi determinado que a área total impactada pela lama foi de 2,475 milhões de metros cúbicos, um total equivalente a cerca de 247 estádios do Mineirão.

O resultado do laudo identificou substâncias acima do valor encontrado em solos naturais em todos os seis pontos, incluindo, principalmente, alumínio – encontrado acima dos valores em todos os pontos -, ferro, manganês, antimônio, arsênio e boro.

Todas as variações se encontram acima de 100% do valor de referência em solo natural da região, sendo a maior discrepância encontrada no quarto ponto de coleta, onde as substâncias foram descobertas em variações de até 1.150% acima do esperado.

Alguns destes elementos, como o chumbo e o arsênio, estão na lista das 10 substâncias mais tóxicas da Organização Mundial da Saúde, e seu efeito na saúde pública ainda não pode ser dimensionado.

“O laudo atesta cientificamente o que é possível enxergar a olho nu, ou seja, a lama trazida pelas chuvas promoveu a degradação do solo, o que impacta diretamente a qualidade de vida das pessoas. Não sabemos os efeitos disso, visto que as amostras apontam que a lama é um resíduo classe IIA – não inerte, que pode causar reação química. Isso demonstra que esse material que ficou sedimentado no leito do rio e que invadiu as casas próximas ao Paraopeba precisa ser retirado de lá e destinado corretamente para um aterro”, declarou o secretário de Meio Ambiente de Betim, Ednard Tolomeu, à reportagem d’O Tempo.

“Esses metais causaram danos ambientais irreparáveis ao meio ambiente em Betim e pontua que, se entrarem em contato com os seres humanos, podem ser reativos, ou seja, prejudicar e trazer riscos à saúde humana”, completou Tolomeu.

Vale nega culpa

De acordo com a reportagem, o município pretende ajuizar uma ação por reparações ambientais, morais e materiais contra a Vale. Especialistas procurados pelo O Tempo chegaram a declarar que, por danos ambientais, a Vale poderia ser cobrada por um valor de cerca de R$ 13,6 bilhões conforme os resultados do laudo.

A mineradora, ao ser procurada, no entanto, afirmou que não é possível vincular o rompimento da barragem de Brumadinho com o alagamento do Paraopeba em Betim.

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