Sirene de barragem da CSN em Congonhas toca durante manutenção e aterroriza moradores - Projeto ManuelzãoProjeto Manuelzão

Sirene de barragem da CSN em Congonhas toca durante manutenção e aterroriza moradores

22/02/2022

Em janeiro, estrutura foi interditada após vazamento e deslizamento de terra; estima-se que 5000 pessoas seriam atingidas imediatamente em caso de rompimento

A sirene da barragem Casa de Pedra, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), tocou em Congonhas na manhã desta segunda-feira, 21. Segundo a CSN, uma das sirenes tocou com volume reduzido “durante uma atividade de manutenção de rotina do equipamento”. Cerca de 5 mil moradores estão na mancha de inundação imediata em caso de rompimento da barragem, que fica bem acima de dois bairros residenciais. Debaixo de uma bomba-relógio, os moradores vivem com medo da barragem, que faz parte da “vista” das janelas de suas casas e que no mês passado foi interditada após vazamentos e erosões em sua estrutura.

Quatro vezes maior que a barragem de Córrego do Feijão, que se rompeu em Brumadinho, a Casa de Pedra é a maior barragem localizada em área urbana na América Latina. Apesar de seu volume e capacidade de destruição e de já ter apresentado problemas, a Casa de Pedra nunca foi classificada em qualquer nível de alerta de rompimento pela Agência Nacional de Mineração (ANM).

Ela apresenta problemas estruturais pelo menos desde 2012, quando a CSN fez um alteamento sem licença ambiental, segundo Sandoval de Souza, diretor de meio ambiente da União de Associações Comunitárias de Congonhas (Unaccon). Desde então, a barragem apresentou vazamentos e outros problemas pelo menos duas vezes. Ela já foi interditada por estar cheia demais, impossibilitada de suportar mais material.

No dia 10 de janeiro, uma “trinca extensa” na barragem foi constatada em ofício da ANM – no dia anterior, um morador havia capturado em vídeo o momento em que parte da estrutura desliza, após dias de fortes chuvas. A CSN chegou a impedir a entrada da Defesa Civil para fiscalização, que só ocorreu após um pedido judicial da prefeitura municipal.

A barragem foi interditada por alguns dias mas “tudo se normalizou” – as chuvas pararam, a prefeitura voltou a relativizar o problema da CSN na cidade. A população da cidade vive um terror sem fim, “acostumada” com os problemas na Casa de Pedra. Muitas pessoas não conseguem dormir, o que piorou desde o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em 2019. Após todos os problemas do início de janeiro, o som da sirene nesta segunda-feira aumentou de forma exponencial o medo dos moradores que não têm chance de escapar com vida.

A mancha de inundação prevista pela CSN é extremamente subestimada. Enquanto a siderúrgica fala em aproximadamente 2.500 pessoas, nos primeiros bairros atingidos pela lama da barragem, são pelo menos o dobro, segundo os moradores, contando com o centro da cidade, além de outros atingidos ao longo da bacia do rio Paraopeba, que carregará a lama.

Os dados sobre o volume de rejeitos na barragem também são obscuros: a CSN relata um terço a menos do volume total que um relatório do Ministério Público estima haver na Casa de Pedra e afirma que apenas 30% do minério vazará se a barragem se romper, uma parcela muito conservadora, segundo especialistas membros do Gabinete de Crise da Sociedade Civil.

Outro impacto da CSN em Congonhas, mesmo sem o rompimento, é no abastecimento de água. A siderúrgica conseguiu, em dezembro do ano passado, uma outorga para bombear cerca de 3.100 m³ de água do lençol freático da região – seis vezes o que a cidade consome e quatro vezes o abastecimento atual da CSN.

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