Coordenador do Projeto Manuelzão conversa com o Lei.A em comemoração do mês do meio ambiente - Projeto ManuelzãoProjeto Manuelzão

Coordenador do Projeto Manuelzão conversa com o Lei.A em comemoração do mês do meio ambiente

02/07/2021

O professor Marcus Vinícius Polignano deu entrevista ao observatório ambiental Lei.A sobre a trajetória, os ideais, e o trabalho educativo e social do Manuelzão

Em comemoração ao mês do meio ambiente, em junho, o observatório de leis ambientais Lei.A fez uma série de vídeos e entrevistas com ambientalistas, pesquisadores e outros importantes atores da luta pela preservação em Minas Gerais e no Brasil. No encerramento da série, o coordenador do Projeto Manuelzão, Marcus Vinicius Polignano, foi o entrevistado. Ele contou um pouco sobre a criação e motivação do Manuelzão, a trajetória do projeto até hoje, e a influência educativa, pública e social do trabalho.

Polignano recorda que começou em 1997, no departamento de Medicina Preventiva da UFMG, onde é professor, uma discussão sobre saúde coletiva. O trabalho nasceu da percepção do papel da questão ambiental na saúde das pessoas, como um direito adquirido de cidadania: “sem ambiente sadio a gente não tem saúde, porque saúde não compra na farmácia, médicos e remédios não são equivalentes à qualidade ambiental.”

Nessa relação entre homem e meio ambiente, o elemento mais importante é a água, e, portanto, a bacia hidrográfica do rio das Velhas foi definida como o foco de trabalho do projeto. “A água é 70% do nosso corpo, é essencial para toda atividade humana e é um espelho da qualidade ambiental”, observa. Sem tratamento de esgoto e o descarte adequado do lixo, o processo de transmissão e contaminação ambiental é acelerado, impactando a saúde das pessoas e da biodiversidade.

Segundo o professor, isso evidencia o caráter sistêmico das redes hídricas, que envolvem homem, natureza, produção e saúde. “Um indicador do projeto é a volta do peixe ao rio. Se dá pra pescar, significa que o rio está saudável e suporta a vida aquática”, argumenta Polignano.

Solo e água

Entre os assuntos tratados na entrevista, esteve também o uso e ocupação do solo nas cidades e sua relação, muitas vezes de oposição, com os cursos d’água e as precipitações. Principalmente nas grandes cidades, tal fator determina a qualidade e a quantidade de água do território, que não provem da quantidade de chuvas, mas dá capacidade de produção e recarga de um sistema sensível.

“A água é ‘solo-dependente’. Como o solo é impermeável, ele é incapaz de absorver a chuva, e portanto ocorrem enchentes, muito comuns na Região Metropolitana de BH. O solo é como uma esponja: com área verde e área de recarga, ele acumula água e vai soltando através de nascentes, afluentes, alimentando o rio. Como o corpo depende do coração para bombear o sangue”, compara.

O dever do Estado

O professor fala ainda do papel do Estado na proteção do meio ambiente. “Defender a questão ambiental é defender primeiro um direito de cidadania, constitucional. É dever do Estado e do cidadão lutar pela garantia de um ambiente sadio e sustentável para essa e para as futuras gerações. [Mas] o Estado tem se ausentado disso e quem tem mostrado a cara é a sociedade, infelizmente.”

O Estado vem não só se ausentado como demonstrado conivência, em casos como no Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, unidade de conservação ambiental que, mesmo protegida por lei, vem sofrendo com o assédio da mineração e chegou a ser explorada ilegalmente nos últimos meses.

Polignano cita a “tecnificação” da discussão como forma de desqualificar o debate social, diminuir o conhecimento da sociedade. “Temos trazido no projeto essa possibilidade de empoderar as pessoas pelo conhecimento, para que elas possam também argumentar, seja nos direitos constitucionais ou na argumentação técnica, de conhecimentos sobre essa visão sistêmica de bacia”, avalia.

Apesar de vivermos um momento crítico de gestão ambiental, estadual e nacional, principalmente, de “passada da boiada”, o professor ressalta que a sociedade tem mais se articulado e se mobilizado, como no movimento Rola Moça Resiste.

Lei.A

O Lei.A – conhecimento e ação pelo meio ambiente, é parceiro do Manuelzão desde sua fundação, em 2017. A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Associação dos Observadores do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural de Minas Gerais. A associação é composta por profissionais de diversas áreas com um objetivo comum de defesa e conservação do meio ambiente. Nasceu da percepção da necessidade de conectar o conhecimento ambiental das universidades e centros de pesquisa com a população, após o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, em 2015.

A luta através da conscientização

Desde 1972 que o Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado em 5 de junho. Criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, na abertura da Conferência de Estocolmo, a data tem o objetivo de chamar a atenção do mundo para os desafios ambientais, além de criar uma postura crítica e ativa na busca pela preservação ambiental do nosso planeta.

A partir de então, o mês de junho passou a ser dedicado a pautas sobre o meio ambiente, responsabilidade socioambiental e combate ao consumo desenfreado que causam a utilização descontrolada dos recursos naturais. Assim, a conscientização ambiental trata da necessidade de se debater as graves perdas que, todos nós enquanto Humanidade, temos sofrido com a depredação do meio ambiente.

A íntegra da entrevista com o coordenador do Projeto Manuelzão pode ser vista abaixo:

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