Dourado é pescado em Rio Acima, na região do Alto VelhasProjeto Manuelzão

Dourado é pescado na cidade de Rio Acima, na região do Alto Velhas

18/04/2024

Aparecimento do peixe de grande porte a essa altura do rio representa melhora da qualidade da água e de outras condições ambientais

Dois dourados foram pescados nos dias 6 e 7 deste mês na cidade de Rio Acima, na Grande BH, região do Alto Rio das Velhas. Os peixes pescados pelo morador Ney Mendes Mota no Rancho Labareda tinham 67 e 69 centímetros de comprimento, fazendo jus ao grande porte da espécie, que é a segunda maior da Bacia do Velhas, podendo atingir mais de 1 metro e pesar mais de 25 quilos, ficando atrás apenas do surubim.

A notícia foi recebida com alegria pelo Projeto Manuelzão, que tem como lema a volta do peixe ao rio e realiza ações de biomonitoramento na Bacia do Velhas há 25 anos.

No início das análises, em 1999, a ocorrência da espécie era limitada à porção do Médio-baixo Rio das Velhas, a pelo menos uma centena de quilômetros de Rio Acima, como descrito pelo biólogo Carlos Bernardo Mascarenhas Alves, do Núcleo Transdisciplinar e Transinstitucional pela Revitalização da Bacia do Rio das Velhas (NuVelhas) do Projeto Manuelzão, e pelos professores Flávio César Thadeo e Paulo dos Santos Pompeu em artigo publicado na edição de número 94 da Revista Manuelzão.

Peixe-símbolo da Bacia do Velhas, o Salminus franciscanus (nome científico da espécie) é um bioindicador importante. Espécie migradora, pode nadar centenas de quilômetros rio acima para se reproduzir durante a piracema, na época chuvosa, preferindo locais de águas limpas e boa qualidade ambiental.

Com o avanço do tratamento de esgotos na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), tem se tornado cada vez mais comum encontrar o dourado em trechos mais acima, não apenas na calha principal do rio, mas também em pelo menos 12 afluentes monitorados. Historicamente, os efluentes de milhões de pessoas na RMBH formavam uma barreira de poluição quase intransponível para a ictiofauna da região.

O biólogo do NuVelhas do Projeto Manuelzão avalia que houve melhora no atual estado da bacia, mas ainda abaixo do esperado.

“Apesar da visível melhora da qualidade da água, após o avanço no tratamento de esgotos, ainda há o que ser feito! É preciso, entre outras ações, melhorar a eficiência das ETEs [Estações de Tratamento de Esgoto], aumentar o volume tratado, melhorar a disposição dos resíduos sólidos e ter maior controle dos rejeitos de mineração. Para alcançar a balneabilidade das águas (qualidade que permite o contato primário, como nadar) temos que iniciar o planejamento do tratamento terciário dos esgotos, de forma que a água das ETEs possa ser utilizada nas ETAs [Estações de Tratamento de Água], fechando o circuito, como ocorre em países da Europa e da América do Norte”.

Alves também ressalta que “é importante poder contar com registros e relatos de pescadores amadores e de moradores locais devido a impossibilidade da pesquisa cobrir toda a extensão da bacia”.

Ele faz ainda um pedido. “Para os pescadores que queiram ajudar nesse monitoramento é importante que se registre a data e, de alguma maneira, as coordenadas do local onde esses peixes estão sendo encontrados, seja através do GPS nos aparelhos de celular ou dando algum ponto de referência específico do local. Com isso, os dados do estudo se tornam cada vez mais precisos”.

A ocorrência do dourado em um trecho a poucas dezenas de quilômetros das nascentes do Rio das Velhas é um sinal de que avanços importantes podem ser conquistados. O caminho até a total revitalização da bacia é longo, mas pode ser trilhado e vencido.

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