13/12/2021
Ato de amor em prol do tombamento integral da Serra contra a mineração reúne cerca de 400 pessoas no aniversário de Belo Horizonte
Neste 12 de dezembro, aniversário de Belo Horizonte, a Praça do Papa foi palco de um ato de amor pela Serra do Curral. Os Movimentos Unificados pela Serra do Curral mobilizaram um dia de celebração e luta pela Serra, em prol de seu tombamento integral e contra a mineração. Quase 50 movimentos sociais, ambientalistas e parlamentares somaram forças para dizer: a Serra é do povo e não está à venda!
Patrimônio histórico, cultural e natural, símbolo da cidade, a Serra do Curral é mais um alvo da mineração no estado de Minas Gerais: um projeto da Tamisa (Taquaril Mineração S.A.) pretende explorá-la do lado de Nova Lima, empreendimento que vai afetar irreversivelmente a água e a biodiversidade da Serra do Curral, que abriga nascentes do Rio das Velhas e do Paraopeba, com impactos para milhões de pessoas na RMBH.
Tombada apenas na extensão que se volta para a capital, a Serra do Curral é vulnerável também à conivência do governo estadual. Uma PEC pelo tombamento estadual integral, para proteger toda a extensão da Serra, tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Ela foi protocolada porque o governo Zema (Novo) protela há meses a votação do dossiê que embasa o tombamento estadual integral, a via normal desse tipo de processo.
Em fala no ato deste domingo, Marcus Vinicius Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão, questionou a conivência do estado com a mineração e a destruição: “Não há como um estado se propor a destruir uma coisa que não é dele. Destruir é fácil, com trator e draga em 15 anos acabou. Mas quem vai fazer isso [a Serra] de novo? A Serra do Curral é do povo, não é mercadoria.”
A vereadora Duda Salabert (PDT) rebateu os argumentos econômicos pró-mineração: “a mineração não é só uma atividade econômica. É também uma ideologia. Em Minas Gerais, diz-se que a mineração é fundamental pra nossa vida, que o estado não existe sem mineração. Isso é mentira, o percentual do PIB que a mineração deixa pro estado é 4%. Vale a pena destruir essa serra, nossos aquíferos, acabar com a nossa saúde, por causa de 4% do PIB? E os empregos, são só 1,2% do total do estado. Esses empregos não podem ser criados no ecoturismo e na preservação da Serra?”
“Precisamos garantir que a mineração não decida mais o rumo de Minas Gerais”, falou Adriana Souza, professora e liderança do SOS Vargem das Flores. Ela também ressaltou a importância da territorialização e organização da luta ambiental como uma luta metropolitana e popular: “as nossas serras e águas não respeitam fronteiras, são integrados. Quando vem uma enchente ou algum tipo de devastação, quem sofre primeiro é o povo preto, periférico. A gente precisa avançar nessa popularização dessa pauta, que é do povo. A luta é a mesma: pela Serra do Curral, do Gandarela, do Elefante, pela Mata do Planalto…”
Enquanto a Serra continua ameaçada, Marcus Vinicius Polignano faz uma sugestão: “vamos fazer um plebiscito, perguntar se BH quer a mineração. Eu sei que a cidade tem orgulho disso aqui, não vai trocar por um punhado de dólares. Isso aqui não tem preço, não tem volta. Nós vamos continuar lutando. E viva a Serra do Curral!”
No ato de amor pela Serra do Curral, durante a manhã de sol desse domingo, centenas de pessoas se juntaram em ciranda, com batuque das Brigadas Populares, ocupações e blocos da cidade; além de da performance do grupo Boi Rosado e do artista Severino Iabá, “Vale de Lágrimas Gerais”; mudas foram doadas e todo o ato foi apresentado pelo artista, pedagogo e produtor Russo Apr.
Saiba mais sobre:
A ameaça da Tamisa na Serra do Curral
A tramitação do tombamento integral estadual
Confira a galeria de fotos do ato deste domingo, 12 de dezembro
Créditos: Mariana Lage/Projeto Manuelzão