Stock Car em BH deixa prejuízo milionário e destruição ambientalProjeto Manuelzão

Rastro da Stock Car em BH inclui prejuízo milionário e destruição ambiental desnecessária

23/07/2025

Projeto Manuelzão repudia danos evitáveis após cancelamento e transferência da corrida para autódromo adequado

Desastre ambiental no entorno do Mineirão foi repudiado pela população e ignorado pela PBH e organizadores da Stock Car. Foto: Ewerton Martins Ribeiro/ UFMG.

O cancelamento da etapa 2025 da corrida Stock Car em Belo Horizonte trouxe à tona um cenário de desperdício de recursos públicos e destruição ambiental na região da Pampulha. O evento, que seria realizado em agosto nas imediações do estádio Mineirão, deixou um rastro de prejuízos financeiros aos cofres municipais e danos irreversíveis ao meio ambiente, reacendendo debates sobre  as prioridades da gestão pública na capital mineira.

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) investiu R$ 20 milhões na estrutura da corrida. Com o cancelamento da etapa de 2025, o prejuízo público se consolida definitivamente.

“O evento de 2024 não cobriu o investimento e agora, mais uma vez, não se vê a cor do dinheiro investido”, declara Marcus Vinícius Polignano, professor da Faculdade de Medicina da UFMG  e coordenador do Projeto Manuelzão. “A Prefeitura jogou 20 milhões de reais no lixo, fruto do desequilíbrio dessa tomada de decisão”.

O contrato firmado entre a PBH e os organizadores da prova previa a realização de cinco edições da Stock Car na região da Pampulha, de 2024 a 2028, todas nas imediações do estádio Mineirão.

Destruição ambiental irregular

Polignano criticou duramente o que chamou de “desastre ecológico com apoio da Prefeitura”, agora agravado pelo prejuízo público com o cancelamento.

O aspecto mais grave do caso envolve a supressão irregular de vegetação. Foram cortadas às pressas, em parte durante a madrugada, 54 árvores nativas e 19 exóticas, incluindo 14 ipês-amarelos – espécie declarada por lei de interesse comum, de preservação permanente e imune ao corte.

As árvores haviam sido plantadas como compensação pela reforma do Mineirão para a Copa do Mundo de Futebol de 2014, intervenção que já havia eliminado 777 árvores, 59 delas sem autorização legal.

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Projeto Manuelzão repudiaram desde o início a proposta de realização do evento na região, alertando para os riscos ambientais e os transtornos à comunidade. Foram votos vencidos, inclusive no Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam), que autorizou o corte de árvores mesmo diante de parecer técnico contrário e sem o devido licenciamento ambiental.

O documento, assinado por técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) em janeiro de 2024, alertava que as árvores ainda estavam em fase de crescimento e sua remoção representava o cancelamento, na prática, da própria compensação ambiental que justificava sua existência.

Além disso, a avaliação constatou que o Plano Diretor vigente determina o licenciamento ambiental de autódromos, hipódromos e estádios esportivos. No entanto, a corrida foi licenciada como evento, na Subsecretaria de Regulação Urbana (Sureg).

As decisões da Prefeitura foram tomadas sem diálogo prévio com instituições diretamente afetadas, inclusive a UFMG, cuja reitoria afirmou ter recebido com “estranheza e espanto” a notícia do corte das árvores. A Universidade expressou abertamente os problemas que a realização do evento causaria para as atividades acadêmicas, a mobilidade na região e o bem-estar dos animais de laboratório e silvestres que vivem ou são tratados na área.

Impactos se acumulam

Em nota divulgada no dia 9 de julho, a UFMG manifestou que a primeira edição da corrida, realizada em agosto do ano passado, “ocasionou grandes impactos científicos e ambientais, obrigando a Universidade a desembolsar mais de R$ 1 milhão para transferir animais do Hospital Veterinário, proteger os animais dos biotérios e proporcionar segurança para a comunidade”.

A pressão popular, as ações judiciais e o desgaste ambiental e político levaram ao cancelamento oficial da etapa de Belo Horizonte. A organização da corrida anunciou, em 11 de julho, a realocação da disputa para o autódromo Circuito dos Cristais, em Curvelo – decisão que evidencia que o evento poderia ter sido realizado em local adequado desde o início, sem os impactos ambientais e os transtornos à comunidade.

Segundo o BH Stock Festival, responsável pela produção local, o cancelamento decorreu de uma ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF), que solicitou a suspensão da corrida e das vendas de ingressos. Embora os organizadores afirmem que “não há evidências de impactos ambientais”, o processo judicial permanece em curso.

Para o professor Marcus Polignano, o caso expõe a falta de planejamento e de compromisso ambiental por parte da PBH. “Esperamos que a Prefeitura ressarça a região ao seu padrão anterior. É uma ótima notícia para moradores e hospitais do entorno, mas teria sido melhor não causar essa degradação desde o início”.

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